“O caos foi generalizado, as pessoas estão em pânico e vocês estão ralados”, anunciava a voz ao microfone, na última terça-feira de garoa insistente em Curitiba, em frente à sede do Tribunal Regional Eleitoral. O grupo, de cerca de 20 pessoas, protestava contra o que qualifica como “omissão” da Justiça Eleitoral em apurar as queixas de “centenas, milhares de eleitores” contra um sistema que opera sem máculas há 22 anos e que, até pouco tempo, era considerado um orgulho nacional: a urna eletrônica.
A reclamação de quem diz não ter conseguido votar para presidente pipocou pelo país no primeiro turno e, em resposta, tribunais eleitorais em cinco Estados começaram nesta semana a realizar a auditoria de urnas eletrônicas que foram alvo de queixas.
São urnas de seções em que eleitores de Jair Bolsonaro (PSL) afirmaram (e registraram formalmente, em ata ou boletim de ocorrência) que não conseguiram finalizar o voto para presidente – ou porque a foto não apareceu, ou porque a votação se encerrou antes de se apertar o “confirma”.
As auditorias, que em alguns casos serão acompanhadas por peritos indicados pelo PSL e entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil e o Ministério Público, devem ocorrer entre essa quinta-feira (18) e sábado (20), nos Estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais.
A Justiça Eleitoral diz estar exercendo “o dever de processar e apurar todas as denúncias de irregularidades”, e afirma que as novas auditorias se somam a práticas de verificação e segurança que já são praxe nas eleições. Mas, ao mesmo tempo, servidores criticam o clima de histeria em relação ao tema, em especial com a difusão de notícias falsas.
No Paraná, onde 756 urnas foram substituídas no primeiro turno (pouco menos de 3%, em um total de 26.792 seções), a reportagem da “Folha de S.Paulo” presenciou eleitores se queixando, nos locais de votação, de que “um amigo foi apertar o 1 e apareceu o 13”, ou que “tinha uma fila enorme no colégio aqui perto porque duas urnas estavam fraudadas”.
Nenhuma das histórias foi confirmada – a primeira, motivada por um vídeo replicado pelo filho do presidenciável do PSL, o senador eleito Flávio Bolsonaro, foi desmentida naquele mesmo dia pelo TSE. A segunda, apurada pela “Folha de S.Paulo”, se mostrou falsa: nenhuma urna fora trocada na escola indicada pelo eleitor.
Servidores da Justiça Eleitoral reagiram, e reclamaram de “fantasias” e “teorias da conspiração”. “O direito de manifestação não é absoluto, e não pode servir de instrumento à desestabilização social”, afirmou o presidente do TRE em Santa Catarina, Ricardo Roesler. No Estado, a Polícia Federal abriu inquérito para apurar a disseminação de denúncias de fraude sem base, que podem caracterizar um crime eleitoral ou até contra a segurança nacional.
Os TREs reiteram que irão apurar toda denúncia de irregularidade ou falha registrada em ata, e pretendem concluir seus relatórios até antes do segundo turno. Mas destacam os procedimentos de segurança já implantados nas urnas: são cerca de 30 barreiras de segurança, que incluem criptografia, travas à execução do sistema em caso de detecção de irregularidade e assinaturas digitais feitas por entidades como TSE, Ministério Público e Polícia Federal.

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