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Com o passar dos anos, os tumores na boca, na cabeça e no pescoço estão ficando cada vez mais resistentes à radioterapia. Essas mutações colocam diante de cientistas e médicos novos desafios na busca por tratamentos mais eficazes. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um grupo de pesquisadores está submetendo à fase de testes in vitro (feitos no ambiente controlado e fechado de um laboratório) o uso de nanopartículas de ouro para o controle e tratamento de tumores.

O ouro foi eleito para ter seus efeitos investigados nesse estudo por ele ser, ao lado do carbono, um elemento biocompatível, ou seja, capaz de entrar no organismo sem gerar qualquer resposta inflamatória, explica Luiz Orlando Ladeira, professor titular do Departamento de Física da UFMG, especialista em nanotecnologia e coordenador do projeto.

“Hoje existem cepas de câncer mais resistentes à radiação. As sequelas do tratamento radioterápico para o câncer de boca, cabeça e pescoço são muito maiores do que eram antigamente. Trata-se o tumor e até cura-se parcialmente, mas deixa-se um dano colateral enorme, como a perda de glândula salivar e cartilagem de dentro da boca, por exemplo, comprometendo muito a qualidade de vida”, explica Ladeira.

Além disso, o uso das nanopartículas de ouro está sendo feito em conjunto com um anticorpo (cetoxinab) que, associado à radiação, vem mostrando resultados animadores, com doses menores durante o tratamento e menos efeitos colaterais. Os bons resultados podem ser explicados pelo fato de a nanopartícula de ouro facilitar o trajeto do anticorpo até o alvo cancerígeno, segundo a pesquisadora-líder do projeto, Lídia Maria de Andrade. Com isso, a expectativa é que a nanotecnologia melhore a resposta dos pacientes à radioterapia e à imunoterapia.

Física e química – De acordo com Ladeira, o tecido biológico (conjunto de células) é formado por elementos com átomos leves como carbono, oxigênio, nitrogênio, que possuem números atômicos 6, 8 e 7, respectivamente. Esse é um termo usado na física e na química para designar o número de prótons encontrados no núcleo de um átomo. Isso implica menor absorção de radiação.

“Já conseguimos observar um direcionamento das nanopartículas de ouro para as células tumorais por meio da ligação com o anticorpo, levando à morte de metade delas com uma dose menor. O tratamento é inovador. Vai ser o futuro da radioterapia”, projeta o professor.

Outra vantagem da terapia em teste é o custo, que não é impactado pelo preço do ouro. “A quantidade (de ouro) é mínima. Se estivermos usando 1 mg por tratamento é muito”, diz.

 

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