Num primeiro momento, a retirada de 8 mL de sangue de um paciente com câncer pode parecer um exame corriqueiro, mas é com essa pequena amostra que médicos e pacientes passaram a ter à disposição o monitoramento quase em tempo real da doença. Esse procedimento, batizado de “biópsia líquida”, vem sendo usado no Brasil há pouco mais de três meses.

Quase todo mundo já fez algum tipo de biópsia, mas, no caso da necessidade de investigação em órgãos internos, como o pulmão, por exemplo, as intervenções se tornam mais complexas, explica o médico Mariano Zalis, diretor da Progenética Hermes Pardini, primeiro laboratório a disponibilizar o procedimento.

“Na biópsia tradicional, entra uma agulha e, por tomografia, coleta-se parte do tecido. Mas isso tudo é problema, pois precisa de internação clínica, uma equipe média especializada e anestesistas”, afirma Zalis. O princípio por trás da biópsia líquida usa uma análise molecular sofisticada capaz de identificar fragmentos do DNA dos tumores na corrente sanguínea.

“Todo tumor é muito vascularizado, então as células que morrem ou se descolam do tumor que está crescendo entram na corrente sanguínea. Não somente as células, mas também o DNA dessas células ficam circulando no sangue”, explica.

O novo método, por sua vez, associado a novas técnicas de análise, tem uma sensibilidade capaz de antecipar a evolução da doença em ao menos três semanas, antes mesmo dos exames de imagem ou do surgimento de sintomas clínicos. “Já se sabe que o tumor é uma doença genética, cujas células que se tornam malignas começam a se multiplicar rapidamente. E, enquanto estão progredindo, eles vão mudando geneticamente”, afirma o diretor.

Dessa forma, o novo teste consegue detectar metástases e identificar se o tumor está desenvolvendo qualquer mutação ou resistência. Assim, tanto a seleção do melhor tratamento quanto seu acompanhamento tornam-se mais assertivos, aumentando o arsenal na batalha contra o câncer.

Nos Estados Unidos já são mais de 50 tipos de câncer que podem ser identificados e acompanhados dessa forma, enquanto no Brasil a técnica só é utilizada para o monitoramento do câncer de pulmão. Estudos nacionais para detecção do câncer colorretal com a nova técnica já estão sendo desenvolvidos, de acordo com o diretor do Hermes Pardini.

A biópsia líquida para análise do câncer de pulmão, por enquanto, está disponível apenas na rede privada a um custo de R$ 1.000, valor bem menor se comparado ao custo de uma biópsia tradicional, segundo Zalis.

Tipos. Até então, toda biópsia pressupunha uma intervenção cirúrgica para a retirada de uma parte do órgão ou do tecido suspeito para análise. Escolher o tipo certo é fundamental para o diagnóstico preciso.

A biopsia cirúrgica é ainda a mais utilizada no país, mesmo sendo bastante invasiva e com maior possibilidade de complicações. Existem basicamente quatro tipos no Brasil: cirúrgica, Paaf (agulha fina), core biopsia (fragmento) e biopsia a vácuo – esta última retira para análise uma amostra maior da lesão e, em algumas vezes, pode remover todo tumor. Cada tipo é indicado para uma lesão ou caso.

Flash

Avanço. A biópsia líquida não substitui a biópsia convencional para o diagnóstico inicial do câncer. A grande questão é que, ao revelar mutações, leva o médico à indicação de drogas, muitas ainda experimentais. (Por Litza Mattos)

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