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A economia brasileira perde cerca de R$ 120 bilhões por ano em produtos que poderiam ser reciclados, mas são deixados no lixo. “Geramos no país quase 80 milhões de toneladas de rejeitos por ano, e reciclamos apenas 3%”, diz o especialista em economia circular e sustentabilidade e coordenador do grupo de resíduos sólidos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Paulo Da Pieve.

Em Belo Horizonte, a reciclagem atinge 1,5% do lixo gerado, segundo o empresário Ronaldo Carvalho, da Tecscan, que produz equipamentos para processamento de resíduos sólidos. Esse é um dos desafios que as empresas brasileiras enfrentam para se tornarem mais sustentáveis ambientalmente. “Falta investimento na indústria de reciclagem. A oferta pequena acaba encarecendo o produto”, diz Da Pieve.

Outro problema é a queda do preço do petróleo no mundo, o que faz com que a matéria prima nova fique tão ou mais barata que o produto reciclado. “A dispersão dos materiais pós-consumo onera a etapa de logística reversa, prejudicando ainda mais a competitividade desses materiais. Para piorar, os plásticos derivados de insumos petroquímicos ficaram mais competitivos com a queda do preço do barril de petróleo, o que torna menos vantajoso o uso de material reciclado”, explica o gerente de sustentabilidade da Natura, Keyvan Macedo.

Em outros países, como a Alemanha – que desde 2010 já recicla mais de 50% do seu lixo –, existem subsídios para as empresas que utilizam material reciclado. “No Brasil não tem incentivo. Pelo contrário, tem uma tributação que o encarece. O imposto incide no produto quando ele é matéria prima e depois, quando é reciclado”, diz Da Pieve. Segundo Carvalho, no caso do plástico, chegam a incidir oito impostos. “Não existe o incentivo fiscal necessário para estimular o desenvolvimento dessa cadeia de materiais”, diz Macedo. A alta dos custos atinge também o papel reciclado, que chega a custar até três vezes mais do que o convencional.

Para Da Pieve, o consumidor brasileiro ainda tem pouca consciência da importância ambiental de consumir produtos com material reciclado e acaba focando apenas no preço. O diretor comercial da Fleurity, que produz coletores menstruais, Carlos Dieter, concorda. “Uma parte dos consumidores busca o coletor por causa da questão ambiental, mas a grande maioria quer economizar”, afirma Dieter. Um coletor menstrual, comparado com o uso do absorvente convencional, se paga em cerca de seis meses e reduz, em um ano, até 4 kg de lixo gerado por uma única pessoa.

O gerente da Natura, porém, pondera. “O consumidor brasileiro está cada vez mais atento à origem dos materiais e aos modos de produção daquilo que consome”, diz o gerente.

NÚMEROS

US$ 102,5 custo médio da tonelada na coleta seletiva

US$ 25 custo médio da tonelada de lixo regular, diz o Cempre

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