O aumento do investimento em educação é historicamente uma das principais reivindicações do setor. Nesse sentido, os dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), divulgados nesta terça, são, em parte, positivos para o Brasil: houve aumento do gasto acumulado por aluno entre 6 e15 anos de US$ 26.765, em 2012, para US$ 38.190 em 2015. A questão é que, apesar do crescimento dos recursos, o país não conseguiu converter o investimento em melhora no ensino, fazendo com que as notas dos estudantes na avaliação da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estejam estagnadas e entre as piores do mundo.
Por trás da inércia das médias brasileiras, a OCDE indica a alta inclusão de alunos na rede de ensino do país, o que, segundo o órgão, deve ser encarado como uma boa notícia, embora ainda exista no Brasil 1,3 milhão de jovens de 15 a 17 anos fora da escola. Educadores ouvidos pelo GLOBO apontam que, além da inclusão, outro ponto que faz com que os investimentos brasileiros sejam ineficazes é a falta de políticas em questões-chave para a educação, como a formação de professores. Eles ressaltam também que, embora a dificuldade na gestão dos recursos seja uma realidade, o valor disponibilizado para cada aluno ainda precisa ser maior.
– Eu entendo a situação econômica, é um período difícil para o Brasil, mas a questão não é de dinheiro, é de prioridades — afirmou o diretor de educação da OCDE, Andreas Schleicher, em entrevista à Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca), acrescentando:
– Se o Brasil não aumentar o investimento, vai ser muito difícil melhorar o resultado educacional.
Atraso em relação a outros países
O Pisa avalia a cada três anos o desempenho de alunos de 15 anos nas disciplinas de matemática, ciências e leitura. Nesta edição, a pesquisa analisou resultados de 70 países e economias e revelou que o Brasil segue como uma das nações com menor gasto acumulado por aluno, mas indicou também que a diferença vem sendo reduzida ao longo dos anos. Em 2012, os US$ 26.765 investidos por aluno representavam 32% do valor gasto pelos países da OCDE. Agora, o montante de US$ 38.190 por estudante representa 42% do que é investido em média pelas nações do grupo (US$ 90. 294). Por outro lado, a média brasileira em ciências em 2012 era de 402 pontos e em 2015 foi 401. Em matemática, o resultado chegou a baixar oito pontos, passando de 389 na edição anterior do Pisa para 377 este ano. O desempenho dos alunos em leitura também congelou em 407 pontos em ambas edições.
A dificuldade do Brasil em converter recursos em melhorias de ensino fica ainda mais evidente quando observados os dados de outros países. A Colômbia, por exemplo, investiu menos, US$ 24,4 mil por aluno, e obteve nota 416 em ciências, 390 em matemática e 425 em leitura. O mesmo exemplo se aplica ao México, que com investimento de US$ 27,8 mil por estudante conseguiu obter 416 em ciências, 408 em matemática e 423 em leitura.
Educadores ressaltam que, ainda que não seja possível traçar uma comparação linear entre os países, o dado revela que o Brasil tem pontos a corrigir.
– Em educação há muitos fatores e variáveis que determinam o retorno desse investimento. É fundamental continuar investindo e é importante melhorar a gestão do recurso público em todas as esferas. É necessário fazer uma definição de prioridades educacionais para ter um resultado mais eficiente. É fundamental ter foco em políticas que tenham relação com o problema, como a formação e valorização de professores. Precisamos da garantia de ter professores devidamente formados e que sejam capazes de dar respostas — afirmou o presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Alessio Costa Lima, lembrando também que o país ainda não está em um patamar desejável de gasto por aluno.
A construção de um currículo único para todo o país, que está em andamento com a formulação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), também é vista como uma maneira de fazer com que os investimentos sejam aproveitados.
– Ainda precisamos de mais recursos para a área, mas não é possível ampliar quase em 30% o investimento e não conseguir melhorar o resultado. Precisamos organizar a educação nas escolas e a Base pode ser o grande momento para o Brasil fazer isso. O currículo será uma verdadeira bússola para elaboração de aulas, livros e formação de professores — opina Antonio Neto, diretor institucional do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed).
As explicações para os dados sobre o país não param por aí. Ao longo dos anos, o Brasil aumentou o acesso à escola, fazendo com que a taxa de jovens de 15 anos matriculados ao menos no 7º ano saltasse de 56% em 2003 para 71% nesta edição. A ampliação do acesso se reflete na amostragem de alunos brasileiros que foram submetidos ao Pisa. Em 2012, 19.204 estudantes fizeram a prova. Neste ano, foram 23.141.
“O fato de o país ter conseguido integrar os alunos recém matriculados, sem um declínio no desempenho global ao longo do tempo, é um desenvolvimento muito positivo”, diz a publicação do Pisa. Uma simulação da OCDE indicou que se a rede de ensino brasileira tivesse permanecido a mesma, o país teria avançado 25 pontos a cada edição do Pisa.
– Temos fatores extraclasse, como o nível socioeconômico dos alunos e escolaridade dos pais, que dificultam a garantia de equidade. O contexto no qual a criança nasce muitas vezes acaba determinando a trajetória escolar dela. O Brasil conseguiu incluir crianças que não estavam na escola, mesmo que de maneira tímida. Esses alunos entraram tardiamente e esse atraso escolar precisa ser corrigido pelo sistema. Ao longo do tempo espera-se que esteja corrigido, mas, no curto prazo, essa entrada impacta o resultado geral — explica Olavo Nogueira, gerente de projetos do movimento Todos Pela Educação, comentando ainda o que considera ser um grande problema :
– O calcanhar de Aquiles no Brasil é a implementação. As políticas que traçamos não se concretizam na sala de aula.
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