Duas semanas antes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano, realizado nos dias 5 e 6 de novembro, a Polícia Federal (PF) iniciou a operação Embuste (que significa “mentira”, “enganação”) para tentar minimizar a atuação de grupos especializados em burlar a segurança do processo seletivo, como ocorre anualmente. Até agora, além das prisões em flagrante e da quadrilha identificada em Montes Claros, no Norte de Minas, a corporação monitora ao menos mais dois grupos de fraudadores no Estado.

O objetivo é flagrar o bando em ação, no momento da fraude, para que seja configurado crime, o que pode ocorrer daqui a uma semana, quando serão aplicadas provas do Enem para cerca de 277 mil candidatos que não puderam fazer o exame no início do mês, devido à ocupação de alunos em escolas públicas. As quadrilhas agem também em vestibulares de universidades particulares. Até agora, já se sabe que, no mínimo, oito instituições de ensino são alvo das quadrilhas no Brasil. “Sem considerar, por óbvio, num incontável número que poderia ser prejudicada via Enem, já que o fraudador poderia se beneficiar, em tese, em detrimento de qualquer universidade do país”, disse o delegado Marcelo Freitas, chefe do Departamento da PF em Montes Claros.

Ele não revela o nome das instituições porque as investigações ainda estão em andamento. A princípio, segundo ele, as faculdades também são vítimas das quadrilhas e não teriam participação direta nas fraudes. Mas há suspeitas de envolvimento de funcionários, principalmente no caso de “venda direta” de vagas, quando o aluno nem sequer precisa fazer prova para conseguir a classificação. “Não há, especificamente, faculdades sendo investigadas. Mas há pessoas de dentro das universidades que estão sendo acompanhadas. O objetivo é saber qual o grau de participação em fraudes já ocorridas, com o ingresso de fraudadores no ensino superior”, explicou Freitas.

Atuação – Na edição desse domingo (27) do jornal O Tempo, a reportagem mostrou como as quadrilhas têm agido de maneira desmedida na tentativa de convencer candidatos de cursos de medicina a participar do golpe. Eles se infiltram em cursinhos, abordam alunos na porta do vestibular, acessam grupos em redes sociais e mandam mensagens por e-mail, WhatsApp, Facebook e Telegram com vastas oportunidades de fraude. Na recente edição do Enem, dez pessoas foram presas, entre membros do bando e candidatos.

“No entanto, é preciso que a fraude ocorra para que haja a repressão. Caso contrário, sem a fraude, haverá apenas atos preparatórios, não passíveis de punição pela Justiça de nosso país”, completou o delegado. Ele disse que essas quadrilhas têm agido com certa facilidade e que vários grupos atuam em pelo menos cinco Estados do país: Minas, Pará, Maranhão, Bahia e Fortaleza. “A principal dificuldade está no aparato tecnológico utilizado, já que evoluem a cada dia. A central telefônica utilizada e o microponto acoplado ao ouvido do candidato eram praticamente imperceptíveis. Não havendo investigação em andamento, fica muito difícil de se identificar a fraude, já que os equipamentos passam facilmente, sem percepção por fiscais de prova e detectores de metais”, concluiu.

Entenda

Crime – O simples assédio ao candidato configura atos preparatórios do crime. Porém, não é possível às autoridades agir repressivamente nessas hipóteses. A ação deve ser de escola, amigos e família. (Luciene Camara)

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