A delação do empresário Marcos Valério, operador dos mensalões tucano e petista, já conta com quase 200 páginas e 78 anexos. A expectativa da defesa é a de que, até o fim deste ano, o documento que irá revelar capítulos inéditos de esquemas de corrupção em Minas e no país seja entregue ao procurador geral da República, Rodrigo Janot.
Marcos Valério tem se reunido duas vezes por semana com seu advogado, Jean Robert Kobayashi Júnior, na Penitenciária Nelson Hungria. Cada encontro tem durado cerca de duas horas. Segundo o defensor, até o momento, já foram citados pelo menos 40 nomes. A lista de possíveis implicados cresceu. Até agora, a conta incluía 20 pessoas.
Marcos Valério redige de próprio punho as informações, que, depois, são transcritas por seu advogado para o computador. “São muitos assuntos. Já são 78 anexos, cada um com um tema. A delação será tanto em nível estadual quanto federal”, explicou Kobayashi Júnior.
A delação premiada começou a ser redigida há cerca de um mês. Marcos Valério já sinalizou para a Procuradoria Geral da República (PGR) que irá desvendar irregularidades nas três instâncias de Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. As suspeitas envolvem políticos e autoridades de vários Estados e diversas instituições.
Acordo. No dia 28 de setembro, dois procuradores federais, enviados a Minas a pedido de Rodrigo Janot, além de dois promotores do Ministério Público de Minas Gerais que cuidam do caso ouviram por quatro horas Marcos Valério, em Belo Horizonte. Na ocasião, ficou acordado que a defesa do empresário iria produzir um relatório com detalhes das informações e dos documentos que ele possui. “Vou entregar os anexos pessoalmente ao procurador geral da República. Acredito que levaremos mais uns 60 dias para concluir”, revelou Kobayashi Júnior.
Histórico. O empresário já foi condenado a 37 anos no caso do mensalão do PT. Atualmente, Valério tenta uma delação tanto no caso do mensalão mineiro, que investiga desvio de verbas públicas para a reeleição do então governador Eduardo Azeredo (PSDB), quanto na Lava Jato.
Benefício
Pena. No acordo, Valério quer a redução da possível condenação no mensalão do PSDB e a transferência da Nelson Hungria para uma Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac).
LAVA JATO
Curitiba – Valério depôs, em setembro, ao juiz Sergio Moro. Ele voltou a dizer que recebeu do ex-tesoureiro do PT Sílvio Pereira um pedido para fazer um empréstimo de R$ 6 milhões para pagar o empresário Ronan Maria Pinto.
Fraude – Ele diz que desistiu da operação – que seria para pagar uma chantagem que o empresário fazia com Lula e com os ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho – quando soube do conteúdo da extorsão. O valor, depois, foi obtido com José Carlos Bumlai, junto ao Banco Schahim, e teria sido pago com propina de contratos com a Petrobras. (Por Tamara Teixeira)