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A obesidade é uma das maiores preocupações da sociedade ocidental atual, pois junto com os quilos extras vem também uma série de doenças associadas, como o diabetes, a hipertensão e o risco de problemas cardíacos. No Dia Mundial da Obesidade, celebrado em 11 de outubro, o que os novos estudos apontam é que o cuidado com o ganho de peso deve começar muito antes do que se imaginava.

Na última década, várias pesquisas vêm mostrando que os mil dias que vão desde a concepção de um bebê até seu segundo aniversário são os mais importantes para determinar os padrões metabólicos de toda a vida de uma pessoa.

“A epigenética é a forma como os genes se expressam, como eles ficam ativados ou desativados. O que se sabe é que, durante a gestação, só o fato de a mãe ter uma dieta rica em açúcar ou em gordura já pode gerar uma alteração na epigenética do bebê, e ele pode acabar nascendo com uma tendência à obesidade por conta dos maus hábitos da mãe”, explica a endocrinologista Cintia Cercato, presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

A formação desse padrão continua pelos dois primeiros anos de vida, quando a criança desenvolve o paladar. “O ser humano já nasce gostando do sabor doce, mas aprende a gostar dos outros sabores de acordo com outras experiências. Se uma criança é exposta a alimentos ultraprocessados, industrializados e muito condimentados – como macarrão instantâneo, por exemplo – antes dos dois anos, isso influenciará no aprendizado do paladar”, continua a médica.

Outro aspecto que é formado nesse período da vida é a microbiota – conjunto de bactérias que irão compor a flora do sistema digestivo de uma pessoa pelo resto da vida. “Observamos que, quando uma pessoa toma probióticos, a microbiota dela muda. Mas, quando ela para de tomar, a microbiota volta a ser a que ela tinha antes. A flora intestinal irá acompanhar uma pessoa por toda a vida, e as bactérias têm um papel fundamental na tendência para a obesidade”, explica o médico Hugo Ribeiro Junior, professor do departamento de pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia e consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Novos hábitos – Os mil primeiros dias de um indivíduo, desde a fecundação até o segundo aniversário, são fundamentais para a construção de uma memória metabólica, que o organismo manterá durante toda a vida.

Isso não significa, porém, que os adultos de hoje, que já tiveram seu metabolismo moldado na infância, tenham motivos para “jogar a toalha” e se entregar à pura expressão de seus genes. “A epigenética, ou a forma como os genes da pessoa se expressam, não vai mudar ao longo da vida. Mas o indivíduo pode ter bons hábitos e ir melhorando algumas coisas em seu organismo. Assim, o estilo de vida saudável é o melhor caminho”, alerta a endocrinologista Cintia Cercato.

Por “estilo de vida saudável”, os especialistas entendem atividade física e uma dieta equilibrada, sem excessos, mas também sem a “demonização” de nenhum tipo de alimento.

“No que diz respeito à atividade física, hoje já sabemos que a mais importante é a do dia a dia: subir uma escada, caminhar alguns quarteirões para chegar ao trabalho, por exemplo. Na alimentação, mais importante do que ficar neurotizado que cada colherada tem que ter tudo que você precisa, é ter uma dieta equilibrada ao longo da semana”, aconselha o pediatra Hugo Ribeiro Junior. Ele, que é contrário à discriminação de alimentos e acredita não haver problema no consumo ocasional de alimentos mais doces ou gordurosos, defende que o segredo para uma vida saudável é manter o equilíbrio por toda a vida.

Tendência – De acordo com a curva normal de ganho de peso, depois dos 30 anos, uma pessoa tende a ganhar 1 kg por ano. Para evitar o sobrepeso, é importante aumentar a atividade física e rever a alimentação.

Estudo – Em 2010, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) realizaram um levantamento em São Paulo, Curitiba e Recife para descobrir o que andam comendo as crianças brasileiras com idades até um ano.

O estudo verificou, por exemplo, que 29% dos menores de seis meses e 40% dos maiores recebem achocolatado junto com a fórmula infantil, dada em substituição ao leite materno. Entre os que recebem a fórmula, 23% dos menores de seis meses e 34% dos bebês de até um ano a recebem na concentração correta.

Um percentual alto de crianças já recebe alimentos condimentados, gordurosos e ricos em açúcar (veja infográfico). “Os primeiros dois anos são fundamentais para ensinar a criança a comer direito. Se você perde essa fase, terá perdido a melhor. Por isso, evitar a exposição a doces e gorduras antes dos dois anos é importante”, ensina a médica Cintia Cercato, da Sbem. (Por Raquel Sodré)

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