analgesicos

Eles simplesmente mascaram a dor. Não curam nada. Produzem uma euforia de curta duração e têm alto poder viciante. O uso contínuo compromete o sistema respiratório e pode levar à morte.

Os analgésicos narcóticos, ou opioides, se tornaram o pesadelo das autoridades de saúde dos Estados Unidos, onde matam cerca de 78 pessoas por dia – entre elas o cantor Prince, que morreu por overdose de fentanil em abril deste ano. E preocupam especialistas em saúde no Brasil, onde o consumo desses medicamentos cresceu 63% nos últimos quatro anos.

Apenas entre agosto de 2015 e agosto de 2016, os brasileiros tomaram 40 milhões de doses, segundo dados levantados pela Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma).

O faturamento da indústria farmacêutica com os analgésicos narcóticos mais que dobrou nesse período no Brasil, passando de R$ 17,5 milhões em 2012 para R$ 40 milhões em 2016, um crescimento de 128% (os dados referem-se aos 12 meses entre agosto de cada ano).

O professor da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais Luiz Rogério Gomes Aranha explica que os analgésicos narcóticos agem no sistema nervoso central, e, como normalmente são à base de ópio, além de aliviarem a dor, dão uma sensação de bem-estar. “Por isso viciam. Os mais comuns são a morfina, a codeína e a hidroxicodona”, diz o clínico geral.

O cantor Prince, por exemplo, começou a tomar os analgésicos opiáceos para aliviar dores causadas pelo uso constante de salto alto nos shows. Depois de uma cirurgia nos quadris em 2000, o uso teria aumentado, e ele se tornou dependente.

Tanto nos Estados Unidos como no Brasil, a compra desse tipo de analgésico exige receita médica. Entretanto, isso não impede que as pessoas tenham cada vez mais acesso às substâncias, seja diretamente nas farmácias ou com os próprios médicos.

“Hoje, os pacientes querem soluções cada vez mais rápidas para seus problemas. Então, em vez de optarem por um tratamento preventivo e de longo prazo, eles querem algo que alivie a dor na hora. E, com isso, o médico, que também quer agilidade nas consultas, acaba receitando remédios potentes, como os analgésicos narcóticos”, afirma o neurologista e especialista em medicina do sono Leonardo Maciel.

O clínico geral Luiz Aranha atribui o fácil acesso ao medicamento a falhas na fiscalização. “Para comprar qualquer analgésico narcótico aqui no Brasil é preciso receita. Porém, com o famoso ‘jeitinho brasileiro’, as pessoas conseguem esses medicamentos. E isso pode ser perigoso”, alerta o médico.

Independentemente dos motivos que resultam no consumo dessas substâncias, os médicos alertam para os efeitos negativos resultantes da ingestão desenfreada de medicamentos. “O remédio provoca dependência e, além de causar sedação e sonolência, pode prejudicar a resposta de outros medicamentos. Então, é necessário que o paciente procure um bom médico e esteja disposto a fazer um tratamento de longo prazo”, explica Maciel.

Na outra ponta desse “negócio”, o diretor da Área de Acesso da Interfarma, Pedro Bernardo, afirma, diferentemente do que se imagina, o crescimento do segmento de opiáceos ficou abaixo do esperado. “Estamos em um período de crise, com uma inflação cada vez mais alta, e a indústria, de modo geral, não está faturando muito. A indústria farmacêutica conseguiu passar por esses problemas, e o número foi satisfatório, mas não o ideal”, comenta.

Para ele, o crescimento do consumo de analgésicos tem que ser analisado considerando a composição etária da população e as condições do sistema de saúde locais. “Hoje as pessoas vivem mais, temos cada vez mais idosos no país. E sabemos que os idosos demandam mais medicamentos”, defende Bernardo.

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