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Existiram outros atletas paralímpicos do Brasil antes dele. Mas talvez nenhum tenha conseguido ser tão representativo quanto Clodoaldo Silva para o paradesporto brasileiro. Ele representou toda uma classe de pessoas com deficiência, superou as dificuldades, que iam da falta de acessibilidade à ausência de apoio esportivo, e sempre acreditou mesmo quando as pessoas achavam que era impossível ver o esporte paralímpico evoluir. Com suas conquistas dentro das piscinas, conseguiu visibilidade e maior atenção para os paratletas do país. Os companheiros de seleção que hoje competem ao seu lado e que até o superam nos Jogos Paralímpicos em número de medalhas, como Daniel Dias e André Brasil, o reverenciam e sempre ressaltam que começaram a competir por causa dele.

Mesmo humilde, Clodoaldo Silva tem consciência de sua importância e, talvez por isso, a despedida tenha sido tão especial. Foram algumas dezenas de braçadas, que duraram menos de um minuto e 30 segundos nos 100 metros livres da classe S5. Apesar do tempo curto, cada braçada foi experimentada com uma lembrança diferente. Na cabeça, o filme de tudo que viveu: as dificuldades, o começo sem muito apoio, as superações diárias até as conquistas, o acendimento da pira, o reconhecimento e o encerramento de uma bela carreira. Aliado a tudo isso, os gritos eufóricos de brasileiros agradecidos e felizes por acompanharem o “mito” em ação pela última vez.

Com uma medalha de prata conquistada na Rio 2016, no revezamento 4 x 50m livre misto 20 pontos, ele se despede e chega à conquista de 14 medalhas paralímpicas, com seis ouros, seis pratas e dois bronzes. Emocionado e não contendo as lágrimas, o nadador falou sobre a despedida.

“É uma alegria indescritível, por tudo que eu vivi nessa Paralimpíada. Desde o início, na abertura dos Jogos com o acendimento da pira. Foi uma emoção gigantesca. Eu sabia que tinha uma validade a carreira do Clodoaldo nas piscinas, mas estava vivendo um dia após o outro. Ontem (penúltimo dia de provas), começou a cair a ficha que estava me aposentando. Foi até difícil dormir, foi difícil nadar a eliminatória”, disse.

“Sempre que chegava no parque aquático, alguém me agradecia, me dava os parabéns, dava incentivo. Está passando um filme na minha cabeça. Entrar na final (dos 100 metros livres) com toda a torcida gritando o meu nome, o nome do esporte paralímpico, é algo inexplicável, só estando ali pra sentir tudo isso” completa. (Por Bruno Trindade)

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