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Quando subir ao plenário do Senado Federal nesta segunda-feira (29), na sessão que se inicia às 9h, a presidente afastada Dilma Rousseff fará, provavelmente, seu último discurso como mandatária do Brasil.
O conteúdo da fala, que terá duração de 30 minutos, é um mistério. Um dos motivos é a imprevisibilidade de Dilma quando o assunto é falar em público. A presidente afastada já foi firme ao criticar a ditadura militar, ao defender os direitos das mulheres e ao se posicionar contra seu processo de impeachment. Porém, ela também já cometeu gafes e proferiu frases confusas ao tentar improvisar nos discursos, como quando saudou a mandioca ou disse que dobraria uma meta que não havia sido sequer estipulada.

Porém, na avaliação de especialistas, a fala de Dilma diante dos senadores nesta segunda-feira (29) não deverá ter muitas surpresas – nem gafes. Na avaliação do cientista político Lucas Cunha, pesquisador do Centro de Estudos Legislativos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a petista não deverá improvisar e certamente seguirá o roteiro já combinado com seu advogado de defesa, o ex-ministro José Eduardo Cardozo: “Ela sabe que está em um momento histórico, que estará falando para registros oficiais. Ela não deve tentar inventar a roda nem soltar nenhuma gafe. Ela seguirá um texto provavelmente alinhado com a defesa que Cardozo já vem fazendo, que é de se posicionar como inocente e vítima de um golpe”.

Para o cientista político da Universidade de Brasília (UNB) Antônio Flávio Testa, a carta aberta, divulgada no último dia 16 de agosto – em que reconheceu erros na condução de seu governo e propôs um plebiscito e uma reforma política –, deverá dar o tom de seu discurso no Senado. “Pela carta, podemos antecipar o que ela possivelmente falará. Com certeza, será um discurso duro, contundente e emocional. Ela pode chorar e falar que está sendo perseguida por ser mulher, transformar o impeachment em uma questão de gênero”, afirmou Testa. O objetivo disso, segundo ele, seria causar uma comoção. “Mas não dos senadores, e, sim, da opinião pública”, destacou o especialista.

Crítica. Autor do livro “Dilmês: O Idioma da Mulher Sapiens”, o escritor e jornalista Celso Arnaldo Araújo tem se debruçado sobre os discursos da presidente da desde o início do governo dela. Para ele, se Dilma decidir responder aos questionamentos dos senadores, com certeza cometerá gafes: “Ela é uma boa leitora. Provavelmente, vai ler o discurso. Mas se for submetida a uma sabatina, vai ser o desastre que sempre foi ao falar em público”. Na opinião de Araújo, a fala de Dilma tem piorado desde o afastamento. “A primeira edição do meu livro saiu com cem frases. De lá para cá, já coletei mais 40, prova de que ela piorou ainda mais”, disse.

Sequência

Votação – Nesta terça-feira (30), devem ter início as falas dos senadores, que terão dez minutos para se manifestar. Depois, eles irão votar. São necessários 54 votos dos 81 senadores para a saída de Dilma.

Renúncia não deverá ser apresentada

Na avaliação de estudiosos, a possibilidade de a presidente afastada Dilma Rousseff usar o discurso para renunciar é remota. Para o cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas Guilherme Casarões, a medida seria comparada à tomada pelo ex-presidente Fernando Collor, que renunciou no dia de seu impeachment para tentar evitar a perda de seus direitos políticos.

“Por tudo que conhecemos da Dilma, ela, dificilmente, renunciaria. Ela deve preferir sair de cabeça erguida. Além disso, ela, provavelmente, não quer repetir o Collor, que renunciou, mas sofreu a cassação mesmo assim e acabou ficando marcado. Ela, possivelmente, não gostaria de ser vista como um eco do que ocorreu com o Collor”, disse Casarões. (JRF)

Reversão de saída é pouco provável

O discurso de Dilma Rousseff diante dos senadores não deverá ser suficiente para reverter sua provável cassação, na avaliação de especialistas.

Na opinião do cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas Guilherme Casarões, o discurso poderá até ter o efeito sobre algum senador indeciso, mas será insuficiente para gerar um impacto decisivo. “O campo do presidente interino Michel Temer já anunciou que espera ter cerca de 60 votos a favor do impeachment. Então, fica sendo uma disputa de forças, com qualquer resultado abaixo disso interpretado como derrota, mesmo que a saída seja aprovada. O discurso pode motivar um ou outro que ainda não se posicionou, mas só nesse cenário”, avaliou.

O cientista político e pesquisador do Centro de Estudos Legislativos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Lucas Cunha acredita que o fato de o processo ter se arrastado acabou dando legitimidade para a saída de Dilma.

“O governo interino já tem seus votos. Se o processo tivesse sido mais rápido, poderia haver alguma chance de reversão, mas como ele se arrastou por todo esse período, acabou se consolidando. Agora, é muito difícil mudar o voto de alguém”, ressaltou. (JRF)

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