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Acostumados com a prosperidade econômica da última década, jovens brasileiros nascidos no fim dos anos 80 e 90 enfrentam, pela primeira vez, um cenário de recessão. Quem já havia conquistado a independência financeira ficou frente a frente com o desemprego e a inflação e foi obrigado a cortar custos para equilibrar as contas. Mas, em alguns casos, esse malabarismo não tem sido suficiente e a saída foi fazer o caminho de volta: arrumar as malas e retornar à casa dos pais.

Foi o que restou aos recém-casados Fernando e Victoria Comar. Eles abriram mão do apartamento alugado de 35 metros quadrados no centro de São Paulo, e foram morar com a mãe de Victoria. “Casamos em fevereiro de 2015 e ficamos pouco mais de um ano morando de aluguel. Mas a gente viu que todo o dinheiro que entrava logo ia embora”, diz o auxiliar jurídico Fernando Comar, 23.

Ele e Victoria, auxiliar de classe, pagavam R$ 850 de aluguel e R$ 250 de condomínio. Sem conseguir equilibrar o orçamento, a sogra deu a ideia de irem para a sua casa. Há quatro meses de volta ao ninho, o casal desembolsa pouco mais de R$ 400 para ajudar com as contas – quantia equivalente ao que gastavam antes. Já o valor do aluguel ganhou novo destino: aplicações no Tesouro Direto. “Queremos fazer um pé de meia primeiro antes de sair”, diz Comar.

Uma das maiores causas dessa “migração” de jovens para a casa dos pais foi o avanço do desemprego. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), no segundo trimestre deste ano, a taxa de desocupação entre jovens de 18 a 24 anos era de 24,5% – mais que o dobro da taxa média do país (11,3%).

Nesse cenário, os gastos com locação e condomínio tornam-se uma despesa incompatível com o orçamento. “Mesmo que os preços dos aluguéis tenham caído, ainda assim não cabem mais no bolso desses jovens”, afirma Mark Turnbull, diretor da vice-presidência de Locação e Gestão Patrimonial do Secovi-SP, entidade que representa o setor imobiliário.

Canguru

Ninho – Em 2014, praticamente um em cada quatro jovens entre 25 a 34 anos morava com os pais há dois anos. Desse grupo, 34,9% tinham pelo menos ensino superior incompleto.

Um porto seguro, mas provisório

São Paulo – Seja qual for o motivo, quem volta para a casa dos pais, geralmente, encontra segurança. Para a professora Pollyanna Marques de Aguilar, 32, é chance de economizar em busca de um novo imóvel para alugar. Pollyanna passou quase cinco anos longe da casa dos pais. Em 2016, porém, decidiu voltar. “Desde o começo do ano, estava procurando um novo lugar para morar. Só que o aluguel estava muito alto”, afirma.

A professora não desistiu de morar sozinha e decidiu procurar um novo imóvel por causa da privacidade. “Resolvi dar um tempo porque morando com os meus pais posso guardar algum dinheiro”, diz.

Para a arquiteta Mariana Borel, 31, a volta para a casa da família também representou um porto seguro. Foram seis anos morando fora. Uma conjunção de fatores obrigou Mariana a dar esse passo para trás: o fim do casamento e a decisão de pedir demissão para tentar trabalhar como autônoma. “Não consegui bancar as despesas da casa”, diz.

A crise fez com que os clientes esperados no novo negócio não surgissem e a tentativa de recolocação no mercado formal acabasse frustrada. Hoje, ela está engajada num negócio próprio. “Se eu não estivesse morando com a minha mãe, não teria toda essa segurança para me arriscar num novo empreendimento.”

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