O número de pacientes que recorreram ao Sistema Único de Saúde (SUS) para tratar um câncer aumentou 34% em cinco anos, mas só 57% dos doentes conseguiram iniciar a terapia dentro do prazo de 60 dias, conforme prevê lei federal de 2012. Os dados foram apresentados pelo ministro da Saúde, Ricardo Barros, no Fórum Estadão Saúde, realizado na quarta-feira (10), em São Paulo

De acordo com o ministro, o número de pessoas que fizeram tratamento oncológico na rede pública passou de 292 mil em 2010 para 393 mil em 2015. O total de sessões de quimioterapia e radioterapia também cresceu, mas o acesso à assistência especializada ainda é o maior gargalo.

Barros admitiu que muitas das medidas anunciadas no passado para melhorar o acesso e a qualidade do tratamento oncológico no País nem saíram do papel. O principal exemplo citado pelo ministro foi o plano de expansão dos serviços de radioterapia. “Em 2012, houve o anúncio do plano de compra de 80 novos aceleradores lineares para radioterapia, mas, até hoje, nenhum está em funcionamento”, declarou.

Segundo o ministro, o atraso é por vários problemas na implementação do serviço. “A dificuldade foi na disponibilidade dos terrenos, na execução do projeto e na compra do aparelho em si. Esperamos que pelo menos dois estejam funcionando até o fim deste ano”, disse.

Barros voltou a defender a criação de planos de saúde populares como forma de desafogar a demanda no SUS. Ele não deixou claro, no entanto, se os convênios mais baratos oferecerão tratamento oncológico, mas disse que esses “planos acessíveis” ajudariam na detecção precoce de tumores. “O usuário tendo acesso mais rápido à consulta especializada pode identificar precocemente o seu diagnóstico e, evidentemente, vai ser tratado de forma mais efetiva porque, quanto antes fizer o diagnóstico, mais chances de cura”, disse.

Críticas

Especialistas em oncologia presentes no evento criticaram a proposta dos planos acessíveis e a demora na incorporação de novas tecnologias e remédios e procedimentos para o câncer na rede pública. “Um plano de saúde básico pode aumentar a judicialização da saúde”, disse Rafael Kaliks, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein e diretor científico do Instituto Oncoguia, referindo-se à possibilidade de que, com uma cobertura mínima, os pacientes de planos busquem na Justiça tratamentos mais completos, seja no convênio ou no SUS.

A presidente da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia, Merula Steagall, lembrou que muitos medicamentos novos para o tratamento de câncer são incorporados antes na rede privada do que na rede pública. “Existem medicamentos que obtiveram o registro da Anvisa há mais de 10 anos no País e ainda não estão disponíveis para o paciente do SUS”, disse.

Caderno. No próximo dia 15, o Estado publicará um caderno especial com as principais informações sobre o Fórum Estadão Saúde. (Agencia Estado)

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