A falta de dinhxeiro das famílias brasileiras – que têm de lidar com a inflação, o aumento nos impostos e o medo do desemprego – têm mudado a rotina de muita gente. Segundo uma pesquisa do Grupo Revenda, 88,9% dos consumidores em todo país afirmaram estar passando mais tempo em casa por causa da atual crise econômica.

Para driblar o preço cada vez mais salgado das saídas nos fins de semana, a professora Raquel Cunha Lima, 38, tem preferido ficar em casa ou frequentar as residências dos amigos, que costumavam acompanhar ela e o marido em restaurantes e bares da capital mineira.

“A economia é de pelo menos 50%”, diz a mineira. “Uma conta que daria no boteco, pedindo um filé com fritas, por exemplo, a gente gasta pelo menos a metade se fizer em casa. Além de ser mais barato, tem a questão da comodidade, cada um faz uma vaquinha ou cada um traz o que bebe e o que come”, explica Raquel, que diz que a mudança na rotina começou há mais ou menos três meses.

Quando saía apenas em família, com o marido e o filho de nove anos, Raquel costumava gastar mais de R$ 100. Agora, em casa, diz que o valor não passa de R$ 60. Não só pela economia financeira, a professora tem achado mais vantagens no lazer dentro de casa que em outros locais.

“Tenho visto mais vantagens que desvantagens. Com o aumento da violência, o que tem acontecido e está relacionado com essa crise, é mais cômodo ficar em casa, ainda mais quando você já tem crianças”, diz ela, que também tem aproveitado os dias da semana para quebrar a rotina com sessões de filmes com a família.

Home office – No caso do agente de viagens Leonardo Bridges, 35, o tempo gasto em casa aumentou, mas durante o horário de trabalho. Depois de sair do escritório onde trabalhava por causa do aumento no aluguel, o empreendedor resolveu utilizar um escritório no apartamento de três quartos que divide com mais uma pessoa para fazer planejamentos e gerenciar excursões para shows de rock em todo o país, ramo no qual atua há mais de 12 anos. “Deixamos o escritório em abril, e montei meu home office”, conta ele, que diz que economizou cerca de R$ 300 com a mudança. “Porém, agora eu tenho que pagar sozinho as contas de telefone e internet, que no escritório dividia com meu sócio”, afirma.

Com mais sossego para lidar com as planilhas dentro de casa, Leonardo continua trabalhando no horário comercial e fazendo questão de atender os clientes pessoalmente, em um espaço específico. “É uma questão de credibilidade, poder receber o cliente em um lugar que tenha a ver com o seu negócio”, diz Bridges, que fechou uma parceria com uma loja de discos na galeria Praça Sete, mais conhecida como “galeria do rock”, para atender os interessados nas excursões.

Fora de casa – De acordo com o índice IPCA-15, divulgado pelo IBGE e considerando uma prévia da inflação, se alimentar fora de casa ficou em média 0,71% mais caro no mês de junho deste ano.

Inflação fez poder de compra cair

Para o economista Felipe Leroy, o setor dos serviços, um dos mais impactados pela crise atual, é diretamente responsável pela opção das famílias de passar mais tempo em casa. “As famílias brasileiras têm perdido muito poder de compra com a inflação”, diz o professor do Ibmec.

“O setor de serviços subiu muito, e sair de casa implica demandar serviços de toda e qualquer natureza”, continua o economista. Segundo ele, a preferência por ficar em casa é um comportamento natural que reflete a insegurança das famílias frente ao medo do desemprego e do alto grau de endividamento. “É um comportamento muito comum e natural de toda uma economia, inclusive nos países mais desenvolvidos”, afirma, destacando que os efeitos da crise são muito mais sensíveis para as famílias de menor renda. (FC)

Delivery de restaurantes não fatura com mudança de hábito

Mesmo com o consumidor ficando mais em casa, o ramo dos restaurantes delivery, após registrar um crescimento de R$ 1 bilhão de 2014 para 2015, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), não está lucrando com a mudança no comportamento.

“Se considerarmos o mesmo período do ano passado, tivemos uma retração de 35% nas entregas”, afirma Ricardo Rodrigues, presidente da Abrasel-MG e proprietário do restaurante Maria das Tranças. “Num domingo, por exemplo, estamos faturando 50% a menos do que em 2015”, diz. A projeção para o setor de alimentação, porém, é de crescimento de até 1% para 2016, segundo dados da associação. (FC) (Fabio Corrêa/ O tempo)

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