Aos 17 anos, o estudante Lucas de Almeida, da rede estadual de ensino do Espírito Santo, tem um objetivo ousado. Ele quer baratear o diagnóstico de câncer de pele, usando o exame de sangue. A maneira como o jovem quer alcançar sua meta é, talvez, tão arrojada quanto. Ele pretende contar com a ajuda da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
E, não duvide, essa parte está cada vez mais próxima de se tornar realidade. Lucas está participando do programa “Village to Raise a Child”, de Harvard, que tem como objetivo desenvolver o empreendedorismo social entre jovens. A universidade norte-americana, reconhecida como sendo um dos principais institutos de pesquisa do planeta, vai escolher cinco projetos. Os autores passarão uma semana nos Estados Unidos e, depois, contarão com a tutela de Harvard para continuar a pesquisa, por um ano, em seus países natais.
Em uma das etapas do programa, os projetos precisaram passar por uma votação popular pela internet para avançar. Lucas conseguiu 23.423 votos, o maior número da história do programa. Agora, o jovem vai passar por uma entrevista com representantes de Harvard. O resultado final deve ser divulgado no próximo dia 25 de julho.
Lucas está ansioso para a etapa final. De férias do 3º ano do Ensino Médio na Escola Estadual Professor Agenor Roris, em Vila Velha (ES), o jovem está estudando para a entrevista.
O projeto
O estudante não tinha nenhum motivo familiar para se interessar pelo câncer de pele. No entanto, ao ler uma pesquisa do Inca (Instituto Nacional de Câncer) que dizia que 26% dos casos de câncer que serão diagnosticados no Brasil neste ano são de pele, decidiu fazer algo a respeito.
“Eu não dava tanta importância ao assunto e comecei a pesquisar na internet. Daí, vi que as pessoas ignoram manchas na pele. Isso atrasa o tratamento e a cura do câncer”, afirmou. “Pensei que se as pessoas descobrirem precocemente, a chance de cura aumenta. Por isso, tive a ideia de diagnosticar o câncer de pele por meio do exame de sangue”, completou.
Com a ajuda de professores, Lucas chegou à conclusão de que o diagnóstico pode ser feito com o uso de biomarcadores em mapeamento genético e marcadores moleculares. É possível, até mesmo, saber o estágio da doença.
A ideia de participar do “Village to Raise a Child” foi do próprio jovem, que descobriu o programa em uma rede social.
“Mandei cartas em inglês e fiz um vídeo. Fui pré-selecionado. Todos os dias, eu ficava das 14h até a meia-noite trabalhando no projeto”, contou.
Na fase da votação online, Lucas contou com o apoio de muita gente. E também percorreu vários órgãos públicos para apresentar seu projeto e conseguir ainda mais apoio.
“Ganhei apoio da população, da secretaria de Educação, das rádios. Discursei na Assembleia Legislativa e em uma comissão de saúde. Alguns médicos me procuraram para me elogiar”, disse.
Aluno de escola pública
Filho de uma vendedora e de um técnico de informática, Lucas nunca saiu do Espírito Santo, nunca voou de avião e sempre estudou em escola pública.
Segundo o jovem, parte de seu objetivo é também dar um bom exemplo a outros estudantes da rede pública que possam se sentir desmotivados.
“Quero quebrar o tabu dos estudantes escolas públicas. Muitos pensam que não vão conseguir entrar em uma faculdade por causa da qualidade do ensino. Eles não têm a expectativa de sonhar grande. É preciso acabar com esse pensamento”, afirmou. (Por Thiago Varella)