O Ministério da Saúde avalia novas mudanças nos critérios utilizados para identificar os casos de microcefalia e outros efeitos do vírus da zika em bebês recém-nascidos. Agora, a ideia é que sinais e sintomas de possíveis danos neurológicos sejam também incluídos como critérios de triagem de bebês, mesmo que não haja suspeita de microcefalia.

A alteração ocorre após um estudo publicado na revista “Lancet” na quarta-feira (29) mostrar que um em cada cinco bebês com infecção provável ou confirmada pelo vírus da zika e com danos neurológicos não tinham microcefalia, quadro definido pelo perímetro menor da cabeça do que o esperado ao nascer.

A pesquisa analisou dados e resultados de exames de 1.501 recém-nascidos investigados pelas secretarias de saúde entre novembro de 2015, mês com o maior número de notificações de suspeitas de microcefalia, e fevereiro deste ano. Destes casos, 899 foram descartados para possíveis danos neurológicos e infecções por zika. Outros 602 ganharam novas classificações em categorias como definitiva, altamente provável, provável e pouco provável para o zika.

Alertado em outubro pela secretaria de saúde de Pernambuco sobre o aumento de casos de microcefalia, o Ministério da Saúde decidiu inicialmente adotar o critério de 33 cm para identificar casos suspeitos de microcefalia. Com isso, bebês que tinham perímetro cefálico igual ou menor do que essa medida entraram na classificação e passaram a ser investigados. Meses depois, o critério foi alterado. Passou a 32 cm e, em seguida, para igual ou menor que 31,9 cm, no caso de meninos, e menor ou igual a 31,5 cm, no caso de meninas.

Segundo a pasta, a adoção de definições “mais sensíveis” em um primeiro momento foi o que permitiu verificar na pesquisa que até 20% dos bebês classificados como confirmados ou prováveis para a chamada ‘síndrome de zika congênita’ apresentavam a medida da cabeça em padrões considerados normais.

“Há um grande percentual que não tem a cabeça pequena. Isso muda um pouco essa ideia de que zika é só microcefalia”, diz o pesquisador Cesar Victora, da Ufpel (Universidade Federal de Pelotas), um dos autores do estudo.

NOVO PROTOCOLO

Para o ministério, que participou da pesquisa, o estudo confirma que os critérios hoje utilizados -que incluem a suspeita de microcefalia pela medida da cabeça e relatos de manchas vermelhas na gestação- são ‘insuficientes’ para identificar as consequências de uma possível infecção pelo vírus. Seria preciso, assim, alertar os profissionais de saúde para verificar sinais de problemas neurológicos durante o desenvolvimento do bebê.

“Com base neste achado, o Ministério da Saúde já está estudando a adequação do atual protocolo de vigilância e resposta à ocorrência de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso central”, diz a pasta, em nota. Outra possibilidade, diz Victora, é ampliar a oferta de exames oferecidos aos bebês em municípios com alto número de casos de infecção por zika.

A pesquisa aponta ainda que infecções pelo zika no terceiro trimestre da gravidez, ou seja, mais próximas ao fim da gestação, também podem estar associadas a alterações no cérebro de bebês, muitos com tamanho normal da cabeça.

Desde o início das investigações, em outubro de 2015, até o dia 25 de junho, já foram notificados 8.165 casos de suspeita de microcefalia no país. Destes, 1.638 já foram confirmados para microcefalia e outras alterações do sistema nervoso central, segundo balanço divulgado pelo ministério nesta quinta-feira (30). São casos que, além de apresentarem alterações no cérebro em exames, sugerem uma infecção ainda na gestação.

O ministério diz considerar que a maioria dos casos esteja relacionado a uma infecção pelo vírus da zika. Outros 3.466 casos foram descartados após exames. Os demais permanecem em investigação.

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