A Polícia Federal (PF) instaurou nesta quarta-feira (8) um inquérito para apurar possíveis crimes e individualizar as condutas dos responsáveis pela divulgação de fake news sobre ações dos governos federal, estaduais e municipais nas enchentes do Rio Grande do Sul. Entre as mentiras disseminadas estão: a exigência de nota fiscal para realizar doações, multa aplicada a veículos de salvamento, licença para pilotar barcos e jetskis e fiscalização de marmitas.

Na mira também estão publicações feitas em redes sociais pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG), além de influenciadores, como o coach Pablo Marçal.

Eduardo Bolsonaro escreveu em redes sociais que o governo federal demorou quatro dias para enviar reforços ao Rio Grande do Sul. Já Pablo Marçal afirmou, em vídeo publicado no domingo (5), que a Secretaria da Fazenda do RS estava barrando os caminhões de doação, impedindo a distribuição de comida e marmitas. O conteúdo, que viralizou, foi republicado por Cleitinho.

“A Secretaria da Fazenda do Estado está barrando os caminhões de doação. Não estão deixando distribuir comida, marmita”, afirmou Marçal. “Esse [2024] é ano político, a mídia não vai mostrar direito o que está acontecendo”, completou Marçal. Cleitinho compartilhou o conteúdo de Marçal e fez outro vídeo, com xingamentos: “Canalhas! Pegam essas notas fiscais e levam para o quinto dos infernos. Se vocês não conseguem ajudar, não atrapalha (sic) quem está ajudando!’”.

O governo do Rio Grande do Sul e o governo federal desmentiram o vídeo de Marçal. Autoridades federais e gaúchas disseram temer que doações deixem de chegar ao Estado por causa da fake news. Após essas publicações, o senador e o deputado federal republicaram em suas redes sociais vídeos que rebatem que o conteúdo não é mentiroso.

Documento lista conteúdos com desinformação

O comandante militar do Sul, o general Hertz Pires do Nascimento, falou sobre os impactos negativos causados pelas fake news, em reunião de emergência com ministros realizada terça-feira (7) no Palácio do Planalto. A informação motivou o pedido de investigação.

A PF abriu o inquérito por ordem do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, que recebeu na terça-feira (7) ofício com o pedido de apuração enviado pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta. Serão apurados “ilícitos ou eventuais crimes relacionados à disseminação de desinformação e individualização de condutas”.

No documento, Pimenta listou nomes de influenciadores digitais, de contas em redes sociais e postagens que viralizaram na internet com informações falsas sobre o trabalho de resgate de pessoas e sobre a recuperação dos estragos no Estado. Entre elas, o vídeo publicado na plataforma X (antigo Twitter) por Pablo Marçal. O ofício também cita o senador Cleitinho Azevedo como “disseminador da fake news”.

Outras postagens envolvendo o deputado federal Eduardo Bolsonaro, o jornalista Thiago Asmar, o influenciador Leandro Ruschel, a influenciadora Fernanda Salles, além de contas como Pavão Misterious e Tumulto BR, são descritas no ofício enviado por Paulo Pimenta. Segundo o ministro, elas causam impacto no aprofundamento da crise social vivida pela população gaúcha.

“Os conteúdos afirmam que o Governo Federal não estaria ajudando a população, de que a FAB [Força Aérea Brasileira] não teria agilidade e que o Exército e a PRF [Polícia Rodoviária Federal] estariam impedindo caminhões de auxílio. Destaco com preocupação o impacto dessas narrativas na credibilidade das instituições como o Exército, FAB, PRF e ministérios, que são cruciais na resposta a emergências”, diz trecho do ofício.

“A propagação de falsidades pode diminuir a confiança da população nas capacidades de resposta do Estado, prejudicando os esforços de evacuação e resgate em momentos críticos. É fundamental que ações sejam tomadas para proteger a integridade e a eficácia das nossas instituições frente a tais crises”, completa.

‘Tem gente que está apostando na desgraça’, diz Lula

Na manhã de terça-feira (8), durante conversa com radialistas no programa Bom Dia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a onda de fake news relativa à tragédia climática no Rio Grande do Sul. “Um país não pode ir para frente desse jeito. É preciso que as pessoas tenham bom senso. É preciso que não sejam levianas”.

“A situação do Rio Grande do Sul é muito delicada. Todo mundo quer ajudar. Agora, é preciso tomar cuidado, porque tem gente que não quer. Tem gente que está apostando na desgraça. Gente que quer que não dê certo”, completou o presidente. (Por Renato Alves/Brasília)

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