Com todas as investigações que vêm fechando o cerco em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de sua família e de aliados, principalmente as que se referem à tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, a convocação para o ato em sua defesa, prevista para o próximo dia 25, na Avenida Paulista, pode deixá-lo numa situação ainda mais delicada, dificultando a sua defesa.

O ato é uma resposta à operação Tempus Veritatis – “hora da verdade”, em latim, da Polícia Federal (PF), que apura uma suposta organização criminosa atuante na tentativa de golpe. Segundo especialistas, a postura de Bolsonaro nada mais é do que uma demonstração de enfrentamento às decisões das instituições.

“Ele está chamando as instituições para o conflito. E isso é muito ruim para a defesa dele. Num momento em que ele está sendo investigado e decide fazer uma manifestação para ‘provar sua inocência’, isso significa que ele discorda das decisões tomadas pelas instituições”, avaliou o cientista político e professor Adriano Oliveira.

A manifestação pode reforçar o desgaste em torno do nome do ex-presidente por parte dos seus apoiadores. Afinal de contas, muitos governadores, prefeitos e parlamentares podem estar refletindo sobre o aspecto de que se o Supremo Tribunal Federal (STF) e a PF em nenhum momento recuaram, frente às investigações, e cada vez mais apontam evidências robustas de que pode ter ocorrido uma tentativa de golpe. Associar-se ao bolsonarismo neste momento gera um receio de que eles, também, podem tornar-se “vítimas” das instituições.

Oliveira cita como exemplo o caso do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, aliado de Bolsonaro, que está sendo investigado pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e tenta, junto ao STF, anular essa investigação. “Se ele vai para um ato desses, tendo o Supremo como um ator investigador, corre o risco de ele ser visto como alguém que é favorável a uma tentativa de golpe. Certamente, ele não irá”.

Segundo o cientista político, o fato de o ex-presidente incentivar atos dessa natureza e, habitualmente, se eximir da responsabilidade quando algo dá errado, gera um processo de descredibilização, de perda de confiança, e isso pode esvaziar a manifestação. (Fonte: Folha/Política)

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