A Organização Mundial da Saúde (OMS) está monitorando a China por causa do aumento expressivo de casos de doenças respiratórias, sobretudo entre crianças. Só no norte, em outubro, ocorreram numerosos registros de “doenças semelhantes à gripe”, com aumento expressivo em relação aos três anos anteriores. Porém, as autoridades chinesas rebatem que não há sobrecarga no sistema de saúde, assim como a existência de risco iminente de epidemia, pois não circulam patógenos incomuns ou desconhecidos.

Há três dias, a OMS identificou relatos da mídia e do sistema público de vigilância de doenças ProMED sobre os surtos de pneumonia não diagnosticada em hospitais infantis. Após essa revelação, houve um pedido oficial à China para fornecer informações epidemiológicas e clínicas adicionais, assim como resultados laboratoriais dos casos e dados sobre tendências recentes de patógenos respiratórios circulantes.

Na quarta-feira (22/11), a organização fez uma teleconferência com autoridades de saúde chinesas do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças e do Hospital Infantil de Pequim, na qual os dados foram apresentados. Em resposta à OMS, o governo da China confirmou o aumento no número de consultas ambulatoriais e nas internações hospitalares de crianças devido à pneumonia por Mycoplasma pneumoniae desde maio e por VSR, adenovírus e vírus da influenza desde outubro.

Werciley Vieira Júnior, infectologista do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, diz que as doenças monitoradas são transmitidas da mesma forma que outras patologias respiratórias. O especialista ressalta que a transmissão pode ocorrer por gotículas, gotas de saliva ou de secreções, quando a pessoa tosse ou faz algum procedimento que afete as vias respiratórias, que elimina microgotas que têm uma capacidade de ficar mais tempo no ar. “Uma microgota pode ficar até duas três horas no ambiente, suspensa”, reitera.

A onda surge cerca de quatro anos depois dos primeiros casos de covid. A OMS sugeriu que a população adote medidas para reduzir o risco de doenças respiratórias. Reiterou as recomendações da pandemia: vacinação, manter distância das pessoas doentes, ficar em casa se tiver sintomas, fazer testes e usar máscara se necessário, além de manter os locais bem ventilados e lavar as mãos.

Influências externas

O vice-diretor e epidemiologista do Centro de Prevenção de Doenças de Pequim, Wang Quanyi, disse à imprensa estatal que as doenças respiratórias têm relação direta com as mudanças do clima e as oscilações de temperatura no país. “[As temperaturas caíram quando Pequim] entrou na temporada de alta incidência de doenças respiratórias infecciosas”.

Segundo o epidemiologista, em Pequim se “mostra atualmente uma tendência de coexistência de múltiplos patógenos”. No Hospital do Instituto de Pediatria de Pequim, correspondentes da AFP observaram uma grande quantidade de crianças. Li Meiling, 42 anos, disse que a filha, de 8 anos, tem pneumonia por micoplasma, um patógeno que causa dor de garganta, fadiga e febre. A mãe, no entanto, disse que não está muito preocupada com o alerta da OMS. “É inverno. É normal que aconteçam mais casos de doenças respiratórias.”

Gilda Elizabeth, pneumologista do Hospital Brasília Unidade em Águas Claras, da Rede Dasa, destaca que não se deve deixar de lado as medidas de proteção. “Temos no Brasil vacinas contra doenças pneumocócicas, e doenças virais como H1N1. É importante a gente ter o calendário vacinal em dia para não ocorrer um surto dessas doenças. Não é porque nós não temos surtos de patologias respiratórias, agora, aqui no Brasil que devemos relaxar com a prevenção, ela é exatamente para não vivermos pandemias, como a que já passamos e tivemos tantas mortes.”

Monitorar é vital

“A OMS mantém vigilância constante nos focos de doenças infecciosas que surgem pelo mundo. É muito importante para alertar as autoridades sanitárias dessas regiões quanto às medidas necessárias para conter a disseminação. Essa ação foi muito clara durante a pandemia, quando os alertas foram emitidos, e medidas tomadas. Quando é detectado um foco de doenças infecciosas ou infecções respiratórias não significa necessariamente que vai ocorrer uma disseminação mundial ou que há um risco grande de epidemia ou de pandemia, isso depende da interação do microorganismo com a sociedade local, qual o estado de imunidade e quais as condições sanitárias que as pessoas vivem.”

Hemerson Luz, chefe da Clínica de Infectologia do Hospital Naval Marcilio Dias, no Rio de Janeiro.

Excesso de antibióticos pode matar

Pelo menos 10 milhões de mortes no mundo podem ocorrer até 2050 em decorrência do consumo excessivo de antibióticos, que reduz a eficácia dos remédios e aumenta a resistência bacteriana. O alerta é da Organização M,undial de Saúde (OMS): “Embora a resistência aos antimicrobianos seja um fenômeno natural, o desenvolvimento e a propagação das superbactérias são acelerados pelo uso abusivo de antimicrobianos, o que complica o tratamento eficaz das infecções.”

A análise da OMS Europa engloba 53 países e se estende até a Ásia Central. Um estudo realizado em 14 nações revelou que as razões para o uso desses remédios estão relacionadas 24% a casos de resfriado, seguidos de sintomas gripais (16%), dor de garganta (21%) e tosse (18%). Um terço dos 8.200 entrevistados disse ter usado antibióticos sem receita, de acordo com outro ensaio.

O alerta da organização foi publicado no mesmo dia que cientistas do Instituto Santa Fé, nos Estados Unidos, detalharam, na revista Science, uma pesquisa que fornece novos insights sobre resistência a antibióticos da bactéria E. coli, grande causadora de infecções do trato urinário.

Após milhares de simulações digitais altamente realistas, os pesquisadores descobriram que 75% de todos os caminhos evolutivos possíveis da proteína da E. coli deixariam ela com um nível tão elevado de resistência aos antibióticos que o remédio trimetoprima, comum contra infecções, poderia deixar de ser administrado como tratamento.

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