Alvo de remoção de conteúdo e bloqueio de perfis no Twitter e Facebook, políticos bolsonaristas e militantes de extrema direita vêm tentando emplacar redes sociais alternativas na internet. Após passarem pelos aplicativos Gab e Parler – que não decolaram — a nova aposta é o Gettr, conhecido como “a rede social de Donald Trump”. Na última semana, o presidente Jair Bolsonaro e dois de seus filhos, o deputado federal Eduardo (PSL-SP) e o senador Flávio (Patriota-RJ), anunciaram a criação de suas contas na plataforma convocando seus apoiadores a lhes seguirem.

“Aqui não temos a censura do Google e demais redes sociais esquerdistas”, publicou Eduardo Bolsonaro na rede anunciada nas lojas como “imparcial para pessoas de todo o mundo”.

O Gettr foi criado por Jason Miller, ex-assessor do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Nomes como o blogueiro Allan dos Santos e os deputados Carlos Jordy (PSL-RJ) e Carla Zambelli (PSL-SP) também pedem a migração de seus seguidores.

Copiando os modelos de interação do Twitter e Facebook, essas redes servem de abrigo para usuários descontentes com o que consideram uma “falta de liberdade de expressão” nas plataformas mais conhecidas.

Um dos primeiros canais alternativos a mobilizar a direita brasileira foi o Gab, criado nos EUA, em 2016, como um “Twitter de direita”. Por aqui, ganhou adesão em 2018 quando Facebook e Twitter passaram a atuar de forma mais incisiva sobre conteúdos com desinformação ou abusivos. Porém, devido à falta de controle sobre as publicações, sofreu boicotes de lojas de aplicativo como da Google, que removeu a plataforma por violar suas políticas de discurso de ódio. O enfraquecimento do Gab abriu espaço para o Parler, que, pela mesma razão, foi banido pela Amazon, Apple e Google.

Em pouco mais de uma semana de sua estreia no Gettr, Bolsonaro se limitou a replicar as publicações que faz no Twitter. Já Eduardo perguntou aos seguidores sobre “a real opinião de vocês sobre tratamento precoce, vacinas experimentais, eficácia da CoronaVac.”

Perda de seguidores

Três semanas antes do lançamento da nova rede, o Twitter fez uma limpa, desabilitando contas suspeitas. Parlamentares e influenciadores da base bolsonarista, como o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub e o assessor especial da Presidência, Filipe Martins, reclamaram de ter perdido milhares de seguidores.

De acordo com a professora da Escola de Comunicação da UFRJ e coordenadora do Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (Netlab), Rose Marie Santini, o uso dessas plataformas serve também como estrutura de comunicação para as eleições de 2022:

— A ideia é criar canais onde não serão monitorados e que possam estar o tempo todo em contato com a sua base.

Para o pesquisador da Universidade da Virgínia (EUA) David Nemer, que monitora esses grupos na internet, afirma que novas redes como o Gettr estão “fadadas ao fracasso”.

— Essas plataformas ficam autofágicas: consomem aquilo que elas produzem e não saem dali. Há um perigo de radicalização, deles ficarem mais extremistas. Mas essas bolhas tendem a ficar muito pequenas e irem para a periferia do debate público.

Especialistas também alertam para o crescente uso do Telegram como alternativa ao WhatsApp. O aplicativo tem canais de transmissão pública de mensagens sem moderação nem controle de compartilhamento. Segundo Viktor Chagas, do CoLAB da Universidade Federal Fluminense, discursos falsos e de ódio podem ganhar distribuição com enorme capilaridade. (O Globo)

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