Em 2014, último ano em que empresas privadas puderam realizar doações para campanhas políticas, as mineradoras despejaram recursos nas campanhas de 102 deputados federais e estaduais eleitos pelo Estado, o que representa 78,4% do total dos que conseguiram vagas na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Segundo levantamento de O TEMPO, no âmbito estadual, as mineradoras investiram R$ 4,2 milhões nas campanhas e ajudaram a eleger 56 dos 77 deputados para a ALMG. Ou seja, sete a cada 10 deputados estaduais vitoriosos foram financiados pelo setor.
Entre eles, o campeão da lista é o vice-prefeito de Belo Horizonte, Paulo Lamac (Rede). À época candidato pelo PT, ele recebeu R$ 533.186,53 das mineradoras para financiar sua campanha, que custou, ao todo, R$ 1,4 milhão.
Nesse caso, as mineradoras foram responsáveis por pouco mais de um terço dos recursos recebidos pelo ex-petista. No início de 2016, o vice-prefeito de BH filiou-se à Rede Sustentabilidade, partido ligado justamente à causa ambiental, e sofreu forte resistência de setores da sigla que questionavam o fato de ele ter aceitado as doações.
Procurado para falar sobre o levantamento, Lamac não atendeu as diversas ligações da reportagem.
O vice-líder entre os deputados estaduais que mais receberam recursos de mineradoras em 2014 foi Paulo Guedes (PT), reeleito em 2018. Entre doações diretas e indiretas – estas por meio de comitês, do partido ou de outros candidatos –, ele recebeu R$ 413.940,53. Somente a Rima Industrial S/A doou R$ 100 mil.
Segundo o petista, “a interlocução das doações foram feitas pelo partido”. “Não tenho nenhuma relação com mineradoras, nunca fiz nenhum pedido (de doação). Não tenho nenhum rabo preso”, disse.
Ele acrescentou que, mesmo diante dos crimes ambientais em Mariana, em 2015, e em Brumadinho, neste mês, não se sente constrangido por ter sido financiado por mineradoras em 2014. Guedes disse ter assinado pedido de abertura da CPI para investigar o que ocorreu em Brumadinho e endurecer a legislação ambiental.
Federais
Entre os 53 eleitos para a Câmara dos Deputados, 46 foram financiados pelas mineradoras, e o valor destinado às campanhas dos mineiros vitoriosos chega a R$ 6,3 milhões de forma direta e outros R$ 4,5 milhões de forma indireta.
O candidato mais abastecido foi Leonardo Quintão (MDB), que recebeu pouco mais de R$ 1,9 milhão.
Atrás dele na lista está Luiz Fernando (PP), que recebeu R$ 1,19 milhão. “Eu era deputado por Minas, onde a mineração representa muito na economia, e fui lá pedir. Tudo dentro lei, sem problema, era um outro momento”, comentou. Ao citar Brumadinho, ele disse que “providências devem ser tomadas, aconteça o que acontecer com as mineradoras”.
Terceiro, Marcos Montes (PSD) foi agraciado com R$ 989.556,47 e afirma que “foi tudo dentro da legalidade”.
Quarto no ranking, Rodrigo de Castro (PSDB) recebeu R$ 901,2 mil. “Na época, recebíamos recursos de diversas empresas e assim a legislação facultava, era o jeito de fazer campanha. Isso nunca interferiu no meu trabalho, tive posturas críticas à Vale no caso de Mariana, por exemplo”, disse. (Fonte: Léo Simonini e Mateus Castanha)

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