Foto: Emilio Morenatti/ Associated Press

Diogo Bercito – Folha de S. Paulo

Rajoy defendeu a atuação da polícia, criticada pela oposição pelos embates violentos, com mais de 700 feridos, e afirmou estar aberto ao diálogo para resolver a questão de maneira política. “Todos os espanhóis viram que nosso Estado de direito mantém sua fortaleza e sua vigência, que responde aos contraventores com eficiência e serenidade”, disse.

O governo catalão, porém, tem sinalizado não ter mais paciência para negociar, após anos insistindo em se sentar à mesa com Madri.

O porta-voz do governo regional catalão, Jordi Turull, havia dito mais cedo que o governo espanhol responderia nas cortes internacionais pela violência usada pela polícia para impedir a realização da votação separatista.
“O que a polícia está fazendo é simplesmente selvagem, é um escândalo internacional”, disse Turull.

Segundo o governo regional, a polícia espanhola conseguiu fechar 319 postos de votação de um total de cerca de 2.300. “Pedimos àqueles que não conseguiram votar para se dirigirem aos locais que não foram fechados.”

O presidente da comunidade autônoma, Carles Puigdemont, afirmou na noite de domingo que “a Catalunha havia conquistado o direito de ser un Estado independente em forma de república”.

“Como resultado disso”, prosseguiu ele, “o governo que eu presido enviará nos próximos dias ao Parlamento da Catalunha, sede e expressão da soberania de nosso povo, os resultados da jornada de hoje para que aja de acordo com o que prevê a Lei do Plebiscito” –ou seja, a declaração unilateral de independência 48 horas depois da vitória do “sim” na consulta popular.

Não há previsão para o término da contagem dos votos, mas algumas seções eleitorais já começaram a anunciar resultados individualmente -com larga vantagem do “sim”, em diversos casos em torno de 90%. Cerca de 5,5 milhões de eleitores estavam habilitados a comparecer às urnas. Não há previsão legal de quórum mínimo.

Foto: Emilio Morenatti/ Associated Press

O plebiscito separatista catalão começou na manhã de domingo com as imagens de colégios eleitorais invadidos pela polícia, anciãos retirados à força e milhares de pessoas votando debaixo de chuva.

Um vídeo registrando a polícia destruindo as portas de uma escola que servia de centro de votação causou especial indignação, assim como cidadãos jogados ao chão pelas forças de segurança. Na véspera, um cartaz de “más democracia” fora destruído por manifestantes contrários ao voto.

Comemoração

O governo regional catalão, que já goza de alguma autonomia, convocou este voto para ter sua independência completa da Espanha. As autoridades em Madri, porém, afirmam que a consulta é ilegal e, portanto, sem valor.

O Parlamento catalão ameaça declarar sua independência unilateralmente em até 48 horas depois do voto. O governo central em Madri avisa que não vai reconhecer o gesto. O cenário dos próximos dias é incerto.

O presidente catalão, o separatista Carles Puigdemont, votou pela manhã em Cornellà de Terri, onde foi celebrado pelos eleitores presentes. Cada voto era comemorado. Madri havia confiscado milhões de cédulas e milhares de urnas, e a polícia cortou o acesso à internet em diversos pontos para impedir o plebiscito.

Ativistas esconderam urnas durante a madrugada em igrejas. As caixas de plástico foram levadas aos locais de voto em carros particulares, sem alarde.

Como medida-surpresa, o governo catalão anunciou de manhã que aceitaria votos em qualquer colégio eleitoral, e não apenas naqueles onde os eleitores estivessem registrados. Era aceito também o voto sem envelopes.
As cenas de embate foram duramente criticadas por importantes atores políticos, como Pablo Iglesias, do movimento de esquerda Podemos.

“Porradas, empurrões, anciãos arrastados. O que o Partido Popular está fazendo à nossa democracia me repugna. Corruptos, hipócritas, inúteis”, escreveu na rede social Twitter.

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