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A taxa de inflação caiu praticamente à metade desde abril de 2016 e, pela primeira vez em quase oito anos, ficou abaixo do centro da meta fixada pelo governo, de 4,5%.

A queda rápida da inflação resultou de uma combinação de fatores, em especial os efeitos da prolongada recessão sobre a renda e o emprego, mas também de ganhos de credibilidade da equipe econômica e um pouco de sorte.

Isso deve permitir que os juros caiam a um ritmo mais intenso nos próximos meses, abrindo caminho para que o Banco Central experimente um piso inferior ao previsto hoje pela maioria dos analistas do mercado financeiro.

Os alimentos registraram, entre setembro e abril, a mais baixa variação desde 1991, de acordo com Iana Ferrão, analista do banco Credit Suisse. Os alimentos respondem por um quarto do principal índice de inflação do país, o IPCA.

“Há oito meses seguidos a inflação vem abaixo do que esperava o mercado no mês anterior”, afirmou Ferrão. O principal responsável por essa onda foram os alimentos.

Mas a equipe econômica do governo Michel Temer e a cúpula do BC também foram hábeis para convencer o mercado financeiro de que soluções de longo prazo estão sendo adotadas na economia. A resposta foi a queda do risco país e da cotação do dólar.

As expectativas de inflação nos próximos anos se ajustaram à meta de 4,5% e, com isso, segundo Alberto Ramos, diretor de pesquisas econômicas para América Latina do Goldman Sachs, “o BC pode fazer o que quiser com os juros” nos próximos meses.

“Ele pode ser prudente, como tem sido, ou tomar risco de passar do ponto, dada a debilidade da economia”, afirmou. “Mas quanto mais ele cortar agora, maior será a possibilidade de ter que aumentar os juros no ano que vem”.

Nas últimas semanas cresceram as apostas de que a taxa básica de juros definida pelo BC pode chegar a 10% ao ano ainda neste mês. Hoje, ela está em 11,25%. A aposta central é que o BC deve cortá-la até 8,5% neste ano. No Credit Suisse, ele pode ir até 8,25%.

Para a inflação deste ano, o único risco à vista é de baixa. Ferrão acha que em agosto ela estará próxima ao limite inferior da meta, de 3%. Para Ramos, neste cenário o BC deverá baixar juros a um nível que não seja mais restritivo à economia, como agora.

A dúvida é como o BC vai calibrar o estímulo à economia e evitar um cenário que o obrigue a subir os juros no meio da corrida eleitoral de 2018, quando se espera que a economia já tenha saído da recessão e os preços voltem a subir. O cumprimento da meta de 2019 dependerá disso.

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