SÃO PAULO – De todos os bebês que nascem no Brasil, menos da metade (45%) foi planejada. O restante (55%) são casos em que a mulher engravida sem estar contando com a entrada de um bebê em sua vida, segundo dados do Ministério da Saúde. Uma das causas para tantos “imprevistos” foi revelada na última semana: de acordo com uma nova pesquisa, 39% das mulheres que fazem uso de pílulas anticoncepcionais se esquecem de tomar o remédio pelo menos uma vez por mês.
O trabalho, realizado pela indústria farmacêutica Bayer, foi feito com 4.500 mulheres em nove países: Alemanha, Bélgica, Brasil, Espanha, Estados Unidos, França, IrAvançadolanda, Itália e México. Entre todas essas, as brasileiras são as que mais se esquecem.
“A geração conhecida como ‘millennials’, de pessoas que hoje têm de 20 a 35 anos, é multitarefa. Com frequência, essa geração se esquece de coisas banais, como levar carteira, celular ou chaves para o trabalho. E entre essas coisas esquecidas está a pílula”, comenta o médico e professor da Escola de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Afonso Nazário, que colaborou com a pesquisa.
A administradora Mariana Prado, 26, comprova isso. Alguns anos atrás, ainda na adolescência, ela começou a tomar a pílula. “Mas eu esquecia, saía e deixava a cartela em casa. Depois tomava duas no mesmo dia, emendava cartela. Eu tinha uma rotina corrida, de trabalho, cursos, escola. Acabava que o anticoncepcional ficava em segundo plano”, assume.
Com cerca de 22 anos, ela começou a tomar a pílula da forma correta. Mesmo assim, não adiantou: aos 24 anos, sem querer, Mariana engravidou. Hoje, optando por usar só preservativos, sua relação com a contracepção mudou. “Se não tem camisinha, não tem nada! Depois que nasce uma criança, não há momento, clima, nada que faça correr o risco de ter outra. A disciplina é rígida”, conta.
Parceria – Na maioria dos casos, a responsabilidade da contracepção recai toda sobre as mulheres. Elas bem que gostariam de dividi-la com seus parceiros, mas os desafios para que isso aconteça são grandes. “Cerca de dez anos atrás, nós tínhamos um anticoncepcional masculino. O que levou a empresa a parar essa linha foi: perguntamos às mulheres se elas gostavam da ideia de um anticoncepcional masculino. Todas diziam que sim. Mas, quando perguntamos se elas confiariam que o homem estaria tomando, quase a mesma quantidade respondeu que não. Isso mata qualquer conceito do anticoncepcional masculino”, conta o diretor comercial da Bayer, Rubens Weg.
As pesquisas, contudo, continuam pelo mundo. Um dos métodos pretende baixar a produção de espermatozoides para níveis muito baixos com o uso de um gel de hormônios de uso tópico. Outro gel está sendo desenvolvido para ser injetado nos vasos deferentes, interrompendo o fluxo de espermatozoides. Uma terceira tentativa é fabricar uma pílula que impeça os espermatozoides de maturarem completamente. Nenhuma delas – nem outras que também estão em desenvolvimento – deve chegar ao mercado antes de 2018. (Por Raquel Sodré)