Entre as quatro paredes de um consultório, deveria prevalecer a transparência. Porém, a relação médico-paciente está repleta de ruídos, segundo pesquisa apresentada no 33º Congresso Brasileiro de Reumatologia, que encerrou ontem, em Brasília. Enquanto 66% dos reumatologistas participantes do estudo apontam que os doentes não são sinceros quanto ao seu estado de saúde, 72% destes dizem que não se sentem à vontade para se abrir com os doutores. O descompasso tem consequência direta sobre o tratamento, que pode acabar prejudicado.

A pesquisa, da RA NarRAtive, iniciativa internacional do laboratório Pfizer, foi feita com 1.736 médicos e 3.987 pacientes de artrite reumatoide de 15 países, incluindo o Brasil. Essa doença autoimune atinge 2 milhões de brasileiros e, se não tratada, pode levar a deformidades e incapacidade física, além de causar muita dor. O objetivo do levantamento era avaliar a percepção dos dois lados sobre a comunicação entre eles, algo crucial no caso de uma enfermidade que, por ser crônica, precisa de acompanhamento para o resto da vida.

O paradoxo é que tanto médicos (93%) quanto pacientes (91%) brasileiros disseram estar satisfeitos com a comunicação existente. Contudo, as respostas a outras questões deixam claro que, muitas vezes, os doentes e os profissionais de saúde têm expectativas e percepções diferentes. Por exemplo: 86% dos médicos disseram que é muito importante definir um plano de controle da artrite reumatoide com o paciente. Mas somente 46% dos assistidos afirmaram que, de fato, as metas foram determinadas.

Um dado preocupante, na avaliação de Cristiano Zerbini, coordenador do Núcleo Avançado de Reumatologia do Hospital Sírio-Libanês (SP), é o receio que 72% dos pacientes brasileiros (61% na amostra global) confessaram ter de seus médicos. Trinta e sete por cento disseram ter medo de o profissional os considerarem “difíceis” caso faça muitas perguntas, atrapalhando o tratamento. “Em primeiro lugar, o paciente acha que o médico sabe tudo. Ele se coloca na posição de ‘estou falando com Deus’. Alguns têm medo de serem muito chatos. Isso é um absurdo, não é bom para o tratamento. O ideal era que o paciente falasse absolutamente tudo”, afirma. (Por Paloma Oliveto)

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